quinta-feira, 20 de março de 2014

Anotações do Diário de Auguste de Sait-Hillaire- 1820- Parte 2

Anotações  do Diário de Auguste de Sait-Hillaire-
VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL


Sobre os habitantes do Rio Grande, sobre seus hábitos


(...)Como já disse em minha viagem à Minas, os portugueses que se estabeleceram no Brasil, quase todos são ignorantes e sem educação, retardam muito a civilização deste país em vez de fazê-lo progredir.

(...) Ainda tomei 2 mates antes de partir. O uso desta bebida é geral aqui; toma-se o mate, no instante em que se acorda, e depois várias vezes ao dia. A chaleira cheia de água quente está sempre ao fogo e, logo que um estranho entre na casa, oferecem-lhe mate imediatamente. O nome de mate é propriamente o da cuia, onde ele é servido¹, mas dá-se, também à bebida ou à quantidade de líquido contido na cabaça(...) Quanto à planta que fornece esta bebida, chamam-na erva- mate ou simplesmente erva.(...)
Muito se tem elogiado esta bebida, dizem que é diurético, combate dores de cabeça, descansa o viajor de suas fatigas, e na realidade, é provável que seu sabor amargo a torne estomacal, e por isto, seja necessária numa região onde se come enorme quantidade de carne, sem mastigá-la convenientemente. Aqueles que estão acostumados ao mate, não podem privar-se dele, sem sofrerem incômodos.

1-O autor estava enganado, pois mate é o nome do líquido derivado da erva, como ele mesmo explica pouco depois, no mesmo parágrafo- nota da pesquisadora



(...) Os viajantes têm nesta região o costume de apear em todas as casas que encontram para beber mate.


A missa(...) como é de costume entre os portugueses, ninguém tinha livro de oração . Fazia-se ato de presença, mas poucos pareciam rezar. (...) as mulheres(...) permanecem de joelhos como as portuguesas ou de cócoras.


(...)Atiraram um laço nos chifres do animal e outro nas pernas, derrubaram-no, cortaram-lhe os jarretes, degolaram-no com uma faca e o retalharam. Toda essa operação se realiza com muita presteza. Os habitantes da capitania(...) sabem matar e retalhar o gado. Pode-se ,com esta razão, chamá-los de povo carniceiro. Pag 203- (...) assim , para o jantar de meia dúzia de pessoas, mataram umas 3 vacas.


(...)Já havia notado várias vezes que os meninos brasileiros  não tinham gosto nem vivacidade, não os via brincar, e muitas vezes , passavam dias inteiros quase sem se mover ou sorrir.

(...) e como os homens da Capitania de São Paulo aprendem todos os ofícios, certamente havia entre eles marceneiros e carpinteiros (...) Os habitantes da Capitania de Rio Grande, ao contrário, não aprendem ofício algum, sabem apenas montar à cavalo.
Os homens da Capitania do Rio Grande têm aparência mais varonil que os das outras capitanias. São mais militares, porém menos corteses, menos simpáticos, há mais rudeza em suas maneiras. Infinitamente superiores aos espanhóis, porém a maior parte deles são brancos de raça pura², mas como o país deles se parece com o dos espanhóis, devem guardar muitas semelhanças com seus hábitos. Se deixarem os habitantes do Rio Grande entrarem em contato com os índios, e se negligenciarem a educação moral e religiosa deles, em breve não passarão de gaúchos³.

2- Comparando-os(o autor) aos espanhóis daquela região do Uruguai, muitos mestiços com os índios-nota da pesquisadora

3- Gaúchos- termo usado pelo autor no pejorativo, de vagabundos, que era como se designava os desertores e aventureiros que viviam largados na região-nota da pesquisadora.

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