quinta-feira, 20 de março de 2014

Anotações do Diário de Auguste de Sait-Hillaire - 1820- Parte 1

Anotações  do Diário de Auguste de Sait-Hillaire-
VIAGEM AO RIO GRANDE DO SUL


Sobre os habitantes do Rio Grande, sobre seus hábitos



(...) Passando por Viamão, encontrei grande número de homens reunidos, não sei o motivo; todos eram brancos, porte atlético e de boa aparência, a maioria tinha cabelos castanhos e tez corada. O que me chamou a atenção depois que cheguei a esta Capitania é o ar de liberdade de todos com que me deparo e o desembaraço de seus gestos; não possuem a apatia que caracteriza os habitantes do interior, ao contrário, seus movimentos são mais enérgicos, há menos delicadeza em seus gestos. Numa só palavra, são mais homens.

(...) Nesta região, a pecuária quase não exige cuidado, deixam os animais vagar pelos campos e não há necessidade, como acontece em Minas, de dar-lhes sal. A única preocupação que julgam necessária consiste em acostumá-los a ver gente e entender-lhes os gritos, para que não fiquem completamente selvagens, se deixem marcar, quando necessário e posam apanhar os que se destinarem à corte e castração. Para isto, reúne-se o gado, de tempos em tempos, em cada fazenda, homens a cavalo cercam o campo, vão gritando alto e ajuntando os animais para um local apropriado. Lá o gado fica reunido durante alguns dias, depois o conduzem para o campo, deixando-o em plena liberdade. À esta prática chamam “fazer o rodeio” e ao lugar onde prendem os animais dão o nome de rodeio, assim como também à área de terreno cercada para esta espécie de batida(...) as vacas dão cria  de setembro à janeiro; nesta época procuram-se os bezerros no campo, guardam-se num curral, onde as vacas vêm instintivamente amamentá-los de manhã e à tarde.


(...) Nesta capitania, todos possuem grande número de cavalos, mas não se lhes dispensa o menor cuidado, não lhes dão milho e, nesta estação, com as pastagens secas, estes animais ficam magros e fracos. Para a menos viagem é necessário, por isto, levar-se grande número de cavalos de reserva, ou então , vai-se trocando de cavalo a cada estância. Fazem pouco caso dos cavalos, não os prendem e os estancieiros só conhecem os que lhes pertencem pela marca.


(...)Havendo eu me perdido dirigi-me a uma casa que avistei ao longe, aí uma mulher (...) apressou-se em demonstrar sua admiração por ver-me à pé, pois nesta região, toda gente, mesmo pobre, inclusive os escravos, não dão um passo sem ser a cavalo.
Parece, em geral, que esta Capitania é muito rica, mas não se encontra, nem no mobiliário das casas, nem no modo de viver dos habitantes coisa alguma que denuncie tal riqueza. A maior parte dos estancieiros que afirma que um proprietário pode vender todos os anos a quinta parte do seu gado sem diminuir o número do rebanho. Outros estancieiros opinam que esse número poderá subir a um quarto ou até mesmo um terço. Penso que a diversidade de lugares deve influir muito na reprodução, e, por conseguinte, na quantidade de reses que se pode vender anualmente.


(...)Esta Capitania é, certamente, uma das mais ricas de todo o Brasil e das mais favorecidas pela natureza. (...)Vastas pastagens alimentam inúmeros rebanhos e os fazendeiros não são obrigados, como os proprietários das minas e engenhos de açúcar, a lançar mão de escravos. Encontram-se , frequentemente, estâncias que produzem de 10 e 40 mil cruzados de renda, e como os proprietários não têm quase nenhuma despesa, sua fortuna tende à aumentar rápida e consideravelmente.



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