sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Viagem pelo RS de J.G.Semple Lisle- 1797

Parte 4- Continuação do Cap XIX- Os Oficiais conhecem o Governador


O piloto mestre e um capitão de milícias que estava com ele os receberam com o máximo de gentileza e os dirigiram para a casa do funcionário do porto e onde nada que pudesse dar-lhes conforto foi omitido pelo bom homem e sua família. Mr.Black, Mr.Murchison e vários outros desceram do bote com a roupa do corpo, pois seus baús haviam sido jogados no mar. O superior destes homens, Mr. Black, como não tinha salvado quase nada de seu, naturalmente solicitou ao Minchin , que tinha, como foi observado anteriormente, guardado mais do que a sua bagagem pessoal na hora de separar o que levaria consigo, e como foi recusado seu pedido, foi forçado pedir a Lisle por uma troca de roupa. Isto era tão vexatório que Mr. Black clamou a Minchin que dividisse as coisas que tinha salvo e que eram, na verdade, propriedade dele, entretanto como a bagagem de Lisle tinha escapado ilesa, ele pode ajudar tanto Mr. Black, quanto Mr.Murchison.
Depois de descansarem por 1 hora, foi pedido pelo Piloto que eles informassem, da melhor maneira, quem eram, para ser feito o relatório para o governador da província,Tenente-General  Sebastião Xavier da Veiga Cabral e Câmara, que residia no Forte São Pedro, por conta da guerra contra os espanhóis, situado 4 léguas rio acima. Ele ainda comentou que eles deveriam permanecer onde estavam até terem uma resposta de Sua Excelência.
Era natural que Lisle desejasse que seus infortúnios não fossem desnecessariamente tornados públicos; ele bem sabia que nem Mr. Black , nem Mr.Murchison eram capazes de ações crueis, tão pouco tinha dúvidas com relação à Mr. Drummond. Lisle tinha feito tudo pelo bem geral e, estava certo de que deles teria o retorno apropriado. Porém, a opinião de Lisle com relação à Minchin e Prater era muito diferente. Então ele chamou os dois para outra sala e perguntou qual era a intenção deles em relação ao que sabiam sobre a situação dele.. Ambos ao serem questionados, responderam que, por todos os meios, deveriam esconder todas as coisas desagradáveis acontecidas e que não seria do interesse dos portugueses  os problemas de Lisle. Então assim ficou combinado. Lisle assegurou que estava tocado com a gentileza deles, mas era necessário que soubesse o que os dois tinham decidido contar a respeito dele antes de ver o General. Com cuidado, Lisle advertiu-os para que não o enganassem e que se eles pensassem em cumprir o seu dever ou sentissem disposição de contar sobre a sua situação de prisioneiro ao General, ele também faria o mesmo, e que o governador que agisse como achasse apropriado. Se, entretanto, eles primeiro concordassem com Lisle e depois mudassem de ideia expondo-o, exporiam a eles mesmos e Lisle não se submeteria pacificamente a coisa tão mortificante. Eles então repetiram que não tinham intenção de dizer mais do que seu nome e patente militar se fossem requisitados a fazer o dito relatório.
Nisto, Lisle deixou-os e eles propuseram à Mr. Murchinson, Mr. Black e cia, a fazer o mesmo ao que eles consentiram prontamente, e o relatório acabou contendo  o nome do navio, o lugar de destinação, com os nomes e patentes de cada indivíduo, que foi entregue ao Piloto, no qual, Lisle foi descrito como Major Semple Lisle ( Oficial Escocês), um passageiro. O Piloto transmitiu  o relatório ao Governador-General e na manhã seguinte , Sua Excelência enviou um oficial não comissionado com as instruções. O Piloto foi orientado a enviar, diretamente, quem fosse Oficial, imediatamente rio acima, até ele, motivo pelo qual ele não faria a ceia antes que eles chegassem. Os soldados e mulheres foram orientados a seguir pelo rio, no escaler com que sobreviveram ao motim.
Assim, Minchin, com sua esposa, Prater, o Comissário de bordo, e Lisle, concordaram e embarcaram no bote do Piloto, enquanto Mr. Drummond e Mr Murchinson permaneceram para se encarregarem do lançamento do bote e das bagagens dos que foram no primeiro barco, que não puderam carregar. Eles não tinham percorrido 1 légua rio acima, quando encontraram a barcaça do General com um oficial que informou-os que tinha sido enviado pelo General para felicitá-los por terem escapado e para conduzí-los até a vila. A seguir, eles foram para a barcaça do General e logo alcançaram o Forte de São Pedro.
Eles encontraram o Governador-General em uma grande câmara de audiências, na sede dos oficiais da guarnição, todos vestindo seu uniforme completo. A benevolência aparente do seu semblante, sua forma viril e a elegância de suas maneiras encheram Lisle de admiração, respeito e uma muito favorável gentileza, que o conhecimento posterior amplamente confirmou. Aquele inimitável general, que tendo passado os últimos 30 anos de sua vida inteiramente no Brasil, não se aventuraria, naquele dia, a falar com os convidados em francês, pois ele tivera poucas oportunidades de conversar naquela língua e ele percebeu que era incapaz de se expressar como gostaria, mas um Tenente-Coronel de Engenharia, familiarizado com o francês, foi instado pelo General a perguntar sobre as aventuras do grupo e a assegurar que Sua Excelência daria a eles toda assistência em seu poder.
(...)
O General então, dirigiu-se a Lisle conversando com ele até a hora do jantar.
Para divertir os convidados até que a mesa estivesse preparada, alguns oficiais os conduziram até a casa do Comandante - Coronel Manoel Marques de Lima e Souza. Lá eles encontraram uma grande empresa que foi montada com a finalidade de oferecer seus serviços e congratulá-los pela feliz chegada ao país. Vários refrescos foram apresentados e entre eles uma bebida engarrafada extremamente fina , e como aquela parte do Brasil não tinha tráfego estabelecido  com qualquer outro alojamento do mundo, a bebida era mais apreciada que o Imperial Tokai na Grã-Bretanha. Cada indivíduo desta assembleia respeitável tratou-os com carinho, parecendo competir um com o outro por atos de gentileza para com os visitantes.
Eles retornaram para a casa do General pelas 4hs da tarde, quando o jantar foi anunciado e eles foram suntuosamente entretidos. Eles sentaram e eram 40 pessoas à mesa, em um esplêndido jantar de 3 serviços e uma sobremesa elegante; e este é o estilo em que Sua Excelência vive.
`A noite eles foram conduzidos aos alojamentos que foram providenciados para eles. Sua Excelência tinha dito à Lisle, enquanto saíam, que não podia acomodá-lo na casa dele, mas tinha encontrado alojamento adequado e mandado preparar para ele; o Tenente Drummond pediu para ser alojado com Lisle, o qual, vendo que o tamanho do quarto era suficiente, pediu para colocarem mais uma cama, o que foi feito. Na manhã seguinte, o Tenente Coronel dos Engenheiros, que tinha atuado como intérprete no dia anterior, foi ao alojamento de Lisle pedir que este o acompanhasse até o General. Em observância ao pedido, este foi imediatamente , quando depois de alguma conversa sobre vários assuntos, Sua Excelência disse que seria necessário que ele e os oficiais do navio e as tropas fizessem um relatório, com todos os pormenores sobre todos os acontecimentos e que este seria transmitido ao Vice-rei.
Lisle argumentou que na situação em que estava, não faria nenhum relatório, pois ele não servia a Coroa Britânica, inclusive tinha estado sob circunstâncias desagradáveis e não tinha preocupação tanto com o navio, quanto com as tropas, sendo apenas um passageiro, como podia ser percebido pelo relatório feito pelos oficiais de Sua Majestade e pelos que estavam no bote, no momento da chegada.
O pedido do General por um relatório foi passado para o Comissário Minchin e para o outro cavalheiro, que em consequência, preencheu outro relatório similar ao primeiro, mas mais completo. Foi assinado por todos e Lisle aceitou e confirmou como sendo verdadeiro.
O convite para jantar com o General continuou enquanto durou a estadia deles e Lisle foi posteriormente intimado a ver Sua Excelência toda manhã, às 8 hs.
No terceiro dia, esperando pelo General, conforme era seu desejo, este polidamente dirigiu-se à Lisle e disse que estava confiante que nenhum homem merecia mais usar uma espada do que o próprio Lisle e concluiu presenteando-o com uma. Lisle ficou lisonjeado com tal distinção pelo excelente e realizado general, mas seu prazer se mesclou com dor, pois sabia os efeitos que isto teria na mente dos oficiais e antevia algum evento desagradável em consequência da inveja deles.


 The Life of Major J. G. Semple Lisle, por J.G.Semple Lisle- 1797
London, Printed for W. Stewart, No. 194, Opposite York House, Piccadilly, 1799
O livro está disponível digitalmente , em versão original em inglês. https://archive.org/details/lifemajorjgsemp00sempgoog

Tradução livre pela pesquisadora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário