quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Viagem pelo RS de J.G.Semple Lisle- 1797

Parte 3- Continuação do Cap XIX - Os náufragos chegam ao porto de Rio Grande

Mr. Black, Mr. Murchison, o Segundo Imediato e Mr. Drummund assumiram o barco, o Comissário de Bordo Prater que nos seus tempos de iniciante tinha levado alguns viajantes para as Indias Ocidentais e outras partes, sendo supostamente algo como um marinheiro, foi adicionado àquele grupo; Lisle e os outros, estavam constantemente empenhados no salvamento, pois, independente do barco estar sendo esvaziado, o mar estava muito alto e a chuva muito pesada, e ele estava continuamente se enchendo de água. Os movimentos rápidos e violentos fizeram, mesmo os melhores homens do mar ficarem enjoados; o pobre Black se rendeu, incapaz de qualquer movimento, e  Prater, depois de todas as suas profissões, não foi considerado nem marinheiro, nem soldado; ele foi colocado no leme e tomou este lugar. Descrever a situação não era fácil. As crianças podiam perecer a qualquer momento, estavam todos amontoados com as bagagens, com soldados doentes e inúteis, mulheres e crianças quase à beira d’água, e com esta multidão dentro do bote, ir para trás e para frente para trabalhar com este(o bote) para os que ainda trabalhavam, foram obrigados a pisar nos corpos inanimados dos doentes ou daqueles que, pelo medo, foram forçados a deitar.
Ao amanhecer do segundo dia, fizeram algumas sondagens e cedo viram terra, que eles sabiam ser a costa arenosa que corre do porto do Rio Grande até o Cabo Santa Maria, no Rio da Prata. A extrema baixeza da costa causava os brakers, ondas muito altas que se acumulavam e corriam muito rápidas e longe no mar. A costa prometida que tinha comida e abrigo estava perto, mas eles poderiam não chegar vivos à ela se o bote fosse inundado nos brakers; eles, entretanto determinaram que deviam seguir mais para o norte, mantendo a costa à vista. Naquele dia eles fizeram uma observação imperfeita, de que estavam a mais de 20 léguas ao sul de Rio Grande e viram que o bote parecia quase voar através da água. Uma corrente forte que vinha do sul carregou-os antes que se dessem conta  e eles ficaram surpreendidos, pelas 3 hs da tarde, por ver algo semelhante ao mastro de um navio; eles foram em direção à ele e descobriram ser um navio destruído. Ainda não havia terra para ser vista, mas perceberam, mais perto da costa, vários mastros, que eles concluíram eram de navios ancorados, e embora de pé no bote, tanto quanto os olhos podiam alcançar, mais longe ainda nada podia ser visto além de areia, mas eles ficaram convencidos de que devia ser a foz de Rio Grande, desde que eles sabiam que a costa, dali até o Rio da Prata, não apresentava nenhum porto.
Os bancos de areia que corriam para o mar fizeram a situação do bote ficar horrível, pois pareciam estar rodeados pelos brakers. Ali parecia não haver nenhum recuo para eles, nenhuma possibilidade de segurança, exceto ir em direção ao alto mar, e então, com a ventania ainda soprando com toda violência e a noite avançando, oferecia uma única esperança desamparada: assaltados por perigos e ameaçados por todos os lados por dissoluções, um ousado e último recurso restava, eles estavam determinados a passar através dos brakers e seguir um curso direto até os navios que viram fundeados.
Na aproximação da costa, Lisle tinha entregado o leme a um piloto capaz, o Tenente Drummond; confiante em sua habilidade, eles foram em frente, enquanto todos que ousaram olhar para cima fixaram seus olhos nos tremendos brakers que eles estavam para encontrar e esperaram em silêncio pelo destino que parecia inevitável. Em um instante, o oceano irrompeu sobre eles em todas as direções, tudo no bote estava virado e enchendo de água. Mr. Drummond supondo que nada poderia salvá-los, a não ser aliviar o peso do bote, mandou todos jogarem os baús sobre a borda do bote. Mr. Murchison, com sua presteza viril e liberalidade que ele sempre exibia, deu o exemplo com seu próprio baú; assim a bagagem foi sendo jogada pela amurada sem distinção até que foi suficiente para deixar o bote mais leve. E eles ficaram em débito de sua existência para com Mr Murchinson e para com as habilidades de Mr. Drummond. Tendo passado a primeira série de brakers, e encontrando-se em águas mais suaves, mas ainda com brakers entre eles e a costa, eles usaram uma âncora e içaram uma bandeira inglesa na cabeça do mastro, mas pela violência do vento tiveram que baixá-la assim que foi içada. Eles, entretanto, tinham sido percebidos pela casa-sinal localizada na foz do rio¹, que respondeu a eles com a bandeira portuguesa e com a ajuda de um vidro², puderam ver um bote indo em direção a eles, mas achando que eles íam rápido demais em direção a alguns brakers que havia entre a posição deles e a ponta de terra que corria para o mar, eles de novo, ficaram sob vela e rumaram para o rio. A Providência dirigiu-os para o canal certo e eles encontraram o bote do piloto muito perto da costa.

Notas da pesquisadora:
1-Saída de um rio no mar-aqui refere-se à barra do Canal de Rio Grande
2-Não encontrei tradução adequada para este termo, glass, podendo ser referência a uma espécie de monóculo antigo de longo alcance usado pelos marinheiros da época colonial, que seria equivalente ao binóculo atual.

  The Life of Major J. G. Semple Lisle, por J.G.Semple Lisle- 1797
  London, Printed for W. Stewart, No. 194, Opposite York House, Piccadilly, 1799
  O livro está disponível digitalmente , em versão original em inglês.           https://archive.org/details/lifemajorjgsemp00sempgoog

  Tradução livre pela pesquisadora.

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