sábado, 16 de novembro de 2013

Viagem pelo RS de J.G.Semple Lisle- 1797

Parte 9- Continuação do Cap XXI 
Descrição da viagem por Santa Catarina

12º dia de viagem

Na manhã seguinte saímos para Laguna.
Aqui encontramos as únicas montanhas, exceto aquelas de Torres, que fomos obrigados a atravessar. Nós passamos várias montanhas de areia, de grande magnitude e, finalmente atingimos um precipício de rocha, onde começamos a achar que nosso guia tinha se perdido. Estávamos relutantes em voltar para a estrada pela qual tínhamos vindo, portanto nos esforçamos para encontrar algum lugar onde a descida fosse possível e encontramos um que era toleravelmente seguro, então desmontamos e levamos os cavalos descida abaixo, seguindo à pé. Conforme nos aproximávamos de Laguna, a paisagem ficava com uma aparência montanhosa e selvagem. Tivemos muita dificuldade em encontrar o caminho certo, entretanto, em seguida, depois de cruzar um imenso prado, alcançamos o rio, na barra do qual, no lado norte, está a cidade de Laguna. Os cavalos que nos tinham fornecido parariam aqui. Nós nos vestimos debaixo de uma árvore, enquanto a canoa era aprontada para nos levar à cidade. Antes de atingirmos o rio que leva à barra, nós tínhamos que passar por uma lagoa¹ que era muito ampla, calma e rasa. O rio, ao contrário da lagoa, é muito profundo e a corrente, em alguns lugares, muito forte. Depois de atravessarmos a lagoa, travessia que durou mais ou menos 1h e 30 min, nós chegamos ao porto, que encontramos cheio de pequenos barcos, muito bem construídos e parecia ser um lugar cheio de comércio para todo lado. Fomos conduzidos imediatamente ao
Comandante, que nos hospedou muito bem e nos deu atenção de uma maneira muito agradável.

Laguna é uma pequena vila, mas bem construída e as pessoas se vestem bem e parecem viver em grande abundância. As paisagens ao redor são extraordinariamente bonitas, e tudo parece conspirar para tornar o lugar rico e florescente.
Em Laguna dispensamos nossos soldados e índios, pelos quais escrevi uma carta de agradecimento ao governador do Rio Grande, agradecendo todos os favores que recebemos dele e de sua guarnição. Ao mesmo tempo, assegurei- lhe que nossa jornada, em vez de abundantes dificuldades, tinha sido extremamente agradável e divertida. Se tivesse sido capaz de prever os inconvenientes que encontraríamos no dia seguinte, talvez não tivesse escrito de maneira tão otimista.

13º dia de viagem

Em Laguna pegamos novos guias, que, como os anteriores, eram soldados; também tínhamos novos cavalos e na manhã de domingo, 16 de outubro, recomeçamos nossa jornada. Ao meio-dia chegamos à Vila Nova², um vilarejo muito bonito, situado na lateral de uma montanha, onde descansamos durante o calor do dia, e então, de novo, mudamos de cavalos e de guias, e apressamo-nos para os novos acontecimentos que viriam. Nosso caminho passava por imensas florestas, e a passagem era tão estreita que impedia duas pessoas de andarem lado-a-lado. Em muitos lugares, era até estreito demais para um. Mr. Black, uma ocasião, ficou literalmente emperrado entre duas árvores, o que requereu nossos esforços conjuntos para desentalá-lo. Em vários lugares a estrada era tão íngreme que, mesmo com o pensamento vaidoso de que eu era um cavaleiro habilidoso, tive dificuldade de manter-me na sela. E isto não era tudo, como a parte superior das árvores era tão pendente e baixa pelo caminho, que por muitas horas, fomos forçados a inclinar-nos sobre o pescoço dos nossos cavalos e desta maneira dolorosa tivemos que subir e descer precipícios. Nós cavalgamos com um estranho fundo musical; o rugido de diferentes feras selvagens e o silvo de serpentes eram ouvidos a todo momento; mas, apesar de termos tirado esta conclusão baseados na horrível convicção de que eles estavam perto de nós, nunca avistamos nada.
Apesar da marcha fatigante e incômoda, chegamos, pouco depois do pôr do sol, a um porto de pesca de baleias³, situado à cerca de 11 ou 12 léguas de Sta.Catharina4 . Aqui fomos gentilmente recebidos pelo superintendente , aparentemente um homem inteligente. Ele morava em uma excelente casa, a melhor que eu vi até agora neste país; Caminhando, mostrou-nos todo o trabalho e construções pertencentes ao lugar e pelas reclamações que ele fez sobre os pescadores de baleia britânicos, parecia que este lugar - para seu prejuízo- sentia os efeitos da indústria pesqueira dos meus conterrâneos. Aconselhado por ele, concordamos em seguir daqui para Sta Catharina5 em um dos seus navios baleeiros, desanimados com a sua descrição da estrada a percorrer, que ele disse ser bem pior do que aquela que passamos.

14º dia de viagem


Deixamos o porto pesqueiro cedo na manhã seguinte e cerca de 2hs da tarde atingimos o nosso lugar de destino. Esta passagem pela beleza ultrapassa tudo que eu tenho visto e ouvido; situada entre uma cadeia de férteis montanhas, a costa inteira, em ambos os lados parecia um laranjal. Na nossa passagem fomos persuadidos a parar em uma fazenda, para um agradável descanso e lá as pessoas carregaram nosso barco com ótimas laranjas.

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 Notas da pesquisadora:
1-     Lagoa de Santo Antônio
2-   Freguesia de Santa Ana de Vila Nova passou à categoria de distrito de Santo Antônio dos Anjos de Laguna, com o registro que consta na Carta Régia (de Portugal) em 11 de novembro de 1797. Esse distrito compreendia os povoados de Imbituba, Vila Nova e Mirim. Os moradores, a maioria açorianos, dedicavam-se à pesca no mar e na lagoa; cultivavam o linho, a cana, o trigo, a mandioca, o milho; criavam ovelhas e fabricavam açúcar, aguardente, melado, tecidos de linho e lã. A freguesia teve as mais antigas igreja e escola da comunidade. Até 1747, havia apenas uma capela de pau-a-pique, coberta com palha. Anos mais tarde, o Rei de Portugal, Dom João V, autorizou a construção de uma igreja em melhores condições. Através de um “Alvará Régio”, em 1° de março de 1753, autorizou a criação da paróquia e o término da igreja em 1765. O templo apresenta paredes de um metro de espessura, pedra sobre pedra, com abundante argamassa de barro, areia e óleo de baleia, resultado de um trabalho rude, exaustivo, executado pelos negros escravos e açorianos.
O primeiro vigário, segundo registro em velhos livros de batismo, iniciados em 1752, foi o Padre João de Borba Fagundes. Em 1756, foi substituindo pelo Padre Francisco José de Araújo Bernardes, que permaneceu até 1761, exercendo o cargo “forâneo”, isto é, vigário de Vila Nova e de Laguna, simultaneamente.
3-    Provavelmente Garopaba, povoado criado em 1793, com nome de Armação de São Joaquim de Garopaba.
4,5- Ilha de Florianópolis
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The Life of Major J. G. Semple Lisle, por J.G.Semple Lisle- 1797
London, Printed for W. Stewart, No. 194, Opposite York House, Piccadilly, 1799
O livro está disponível digitalmente , em versão original em inglês. https://archive.org/details/lifemajorjgsemp00sempgoog

Tradução livre feita pela pesquisadora.

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