terça-feira, 12 de novembro de 2013

Viagem pelo RS de J.G.Semple Lisle- 1797

Parte 8- Continuação do Cap XXI (pág 236)
Descrição da viagem por Santa Catarina*


*Nota-embora não seja objetivo desta pesquisadora traduzir todo o conteúdo do livro de Lisle, será acrescentada a parte da viagem dos ingleses até a chegada na ilha de Florianópolis(Santa Catarina), pelo interesse histórico da descrição dos caminhos usados pelos viajantes entre o Continente do Rio Grande de São Pedro, Laguna e Ilha de Florianópolis.

9º dia de viagem

Nós descansamos em Torres por 1 dia, como tinha sido combinado e com nosso guia capacitado novamente , retomamos a nossa marcha.
Nós saímos à luz do dia e imediatamente ao deixar Torres entramos na Capitania de Santa Catharina. Nossa rota era ao longo da costa do mar e ao meio-dia nós chegamos a uma cabana onde não obtivemos provisões, com exceção de leite e um pouco de rum, então fomos forçados a almoçar com isto e um pouco de farinha que carregávamos. 
Descreverei a farinha da melhor maneira para dar conta desta produção singular.
Os portugueses a chamam farinha de pau ou flour of wood, e a preparam de uma raiz arbustiva¹, encontrada em todo lugar no Brasil; a raiz é suculenta e tem uma polegada de diâmetro na maior largura, quando tostada tem o gosto da batata, mas para prepará-la como substituto do pão eles empregam uma espécie de moedor, que tem acoplado um  grande ralador circular; esta máquina reduz bem a farinha até pequenos flocos,( em vez da verdadeira farinha, que é pó) e assim é comido pelas pessoas do país, ou só ela, ou misturada com água fria em um tipo de pasta², que as pessoas parecem gostar muito e algumas vezes a comem cozida com açúcar ou melado, quando forma uma espécie de guloseima, longe de ser desagradável. Farinha e bananas, as quais são igualmente abundantes, são quase que exclusivamente a comida dos negros; e todos os habitantes, sem distinção, são tão acostumados com ela, que muito pouco pão é usado nas refeições. Quando os navios de guerra portugueses estão fundeados no Brasil, ela é servida às pessoas com o nome de farinha de guerra.

Tendo esperado para nos refrescarmos durante o período mais quente do dia, prosseguimos na nossa rota e, à noite, alcançamos um rio que era necessário que atravessássemos para obter quartos na casa dos guardas, construída no lado oposto do rio. Estava tão escuro que poderíamos não ser vistos pelo guarda do outro lado, que estava situado lá para atravessar os passageiros em canoas e o rio era tão amplo que poderíamos não ser ouvidos . Apesar da rapidez da correnteza, meu servo tirou a roupa e pulou no rio, nadando até o outro lado; ele encontrou os soldados, que instantaneamente vieram até nós. Nossos cavalos, de número de 50, nós os atravessamos a nado e os colocamos a pastar em um campo perto da margem. Nós fomos obrigados a dormir na deplorável casa dos guardas, ocupada por uma dúzia de soldados de milícia. Nós estávamos quase sem provisões, exceto algum peixe seco ruim, e alguma farinha, mas, felizmente , na parte inferior de uma mochila, na qual tínhamos carregado umas provisões, achamos uns poucos bocados e um pouco de rum, que tínhamos trazido da cabana onde paramos ao meio-dia para fazer nossa refeição. Os nossos panos de sela seriam a nossa cama para a noite e durante a qual caiu uma enorme chuva; o telhado era totalmente inadequado para manter-nos secos e nós ficamos quase tão completamente encharcados, quanto se tivéssemos permanecido ao ar livre.

10º dia de viagem

Cedo na manhã fomos visitados por um pequeno e velho francês que vivia mais acima no rio; ele tinha vindo a este país como soldado e, ali vivia por 26 anos. Durante este tempo ele não tinha ouvido a sua própria língua sendo falada. Devido a falta de prática, ele quase a tinha esquecido, mas tampouco conseguia se explicar em português, somente sua família o compreendia. Não sendo capaz de se fazer entender por palavras, ele tentou com sinais e gestos e desta maneira, pelo longo hábito, tinha adquirido uma facilidade meio grotesca de se comunicar e , algumas vezes poderia ter sido confundido com um grande macaco.

Às 7 da manhã seguinte³, nossos cavalos já tinham sido recolhidos e nos preparamos para continuar nossa jornada. Achamo-nos obrigados a passar outro passo no mesmo rio, não tão rápido quanto o anterior; os cavalos foram conduzidos pelos dragões e índios e nós seguimos numa canoa.
Aqui nós vimos uma maneira extraordinária de pesca, quase inacreditável e o que eu posso não ter mencionado, o terá feito Mr. Black na sua narrativa, também publicada. A pesca, na embocadura do rio é tão farta, que os peixes parecem cobrir a superfície da água e nada mais é feito além de bater na superfície da água com os remos; os peixes, assim alarmados e não tendo lugar para se salvarem nadando, pulam fora d’água em tal número, que alguns acidentalmente caem na canoa e são suficientes para enchê-la em poucos minutos.
Quando atravessamos este rio, um dos nossos cavalos botou na cabeça em disparar caminho afora, tão rápido quanto pode, fazendo outros o seguirem , deixando-nos em perigo de perder vários mais. O mesmo índio, que já havia agilmente perseguido o cavalo fugitivo de antes, que descrevi anteriormente, imediatamente galopou atrás deles, e eu pensando que ele poderia não ser capaz de manejar com todos eles, me juntei à perseguição. Nós os seguimos um longo tempo por areias escaldantes, em muitos lugares esta alcançando a altura da barriga dos cavalos, mas afinal, fomos bem sucedidos em trazê-los de volta e por volta do meio-dia descansamos em umas cabanas, onde tomamos um pouco de rum e comemos peixe , dos que tínhamos trazido do homem que pescou na barra do rio.
Depois do jantar , nós planejamos nossa rota e dependíamos das informações dos nossos guias, de que poderíamos atingir a vila de Laguna naquela noite, que eles disseram estava à distância de apenas 5 léguas.

Nós ficamos, entretanto, desapontados , pois mais adiante, ao prosseguirmos , na mesma noite, descobrimos que ainda estávamos distante daquela vila algumas léguas. Nós acabamos na casa de um padre, que não estava em casa, mas recebemos alguns grãos dos seus escravos, que também mataram uma ovelha para nos alimentar e nós ficamos lá aquela noite .

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Notas da pesquisadora:

1-Mandioca
2-O popular mingau
3- Ficou um pouco confusa a narrativa de Lisle, pois ele diz, nesta frase, Às 7 da manhã seguinte, sendo que descreveu no parágrafo anterior- Cedo na manhã-, não explicando se foi na mesma manhã do que estava narrando ou na próxima.
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The Life of Major J. G. Semple Lisle, por J.G.Semple Lisle- 1797
London, Printed for W. Stewart, No. 194, Opposite York House, Piccadilly, 1799
O livro está disponível digitalmente , em versão original em inglês. https://archive.org/details/lifemajorjgsemp00sempgoog


Tradução livre feita pela pesquisadora.

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