Anotações
do Diário de
Auguste de Sait-Hillaire-
VIAGEM
AO RIO GRANDE DO SUL
Sobre
os habitantes do Rio Grande, sobre seus hábitos
(...) Passando
por Viamão, encontrei grande número de homens reunidos,
não sei o motivo; todos eram brancos, porte atlético e de boa aparência, a
maioria tinha cabelos castanhos e tez corada. O que me chamou a atenção depois que cheguei a
esta Capitania é o ar de liberdade de todos com que me deparo e o desembaraço
de seus gestos; não possuem a apatia que caracteriza os habitantes do interior,
ao contrário, seus movimentos são mais enérgicos, há menos delicadeza em seus
gestos. Numa só palavra, são mais homens.
(...) Nesta
região, a pecuária quase não exige cuidado, deixam os animais vagar pelos
campos e não há necessidade, como acontece em Minas, de dar-lhes sal. A única
preocupação que julgam necessária consiste em acostumá-los a ver gente e
entender-lhes os gritos, para que não fiquem completamente selvagens, se deixem
marcar, quando necessário e posam apanhar os que se destinarem à corte e
castração. Para isto, reúne-se o gado, de tempos em tempos, em cada fazenda,
homens a cavalo cercam o campo, vão gritando alto e ajuntando os animais para
um local apropriado. Lá o gado fica reunido durante alguns dias, depois o
conduzem para o campo, deixando-o em plena liberdade. À esta prática chamam “fazer
o rodeio” e ao lugar onde prendem os animais dão o nome de rodeio, assim como
também à área de terreno cercada para esta espécie de batida(...) as vacas dão
cria de setembro à janeiro; nesta época
procuram-se os bezerros no campo, guardam-se num curral, onde as vacas vêm
instintivamente amamentá-los de manhã e à tarde.
(...) Nesta
capitania, todos possuem grande número de cavalos, mas não se lhes dispensa o
menor
cuidado, não lhes dão milho e, nesta estação, com
as pastagens secas, estes animais ficam magros e fracos. Para a menos viagem é
necessário, por isto, levar-se grande número de cavalos de reserva, ou então ,
vai-se trocando de cavalo a cada estância. Fazem pouco caso dos cavalos, não os
prendem e os estancieiros só conhecem os que lhes pertencem pela marca.
(...)Havendo eu me perdido dirigi-me a uma casa que
avistei ao longe, aí uma mulher (...) apressou-se em demonstrar sua admiração
por ver-me à pé, pois nesta região, toda gente, mesmo pobre, inclusive os
escravos, não dão um passo sem ser a cavalo.
Parece, em geral, que esta Capitania é muito rica,
mas não se encontra, nem no mobiliário das casas, nem no modo de viver dos
habitantes coisa alguma que denuncie tal riqueza. A maior parte dos
estancieiros que afirma que um proprietário pode vender todos os anos a quinta
parte do seu gado sem diminuir o número do rebanho. Outros estancieiros opinam
que esse número poderá subir a um quarto ou até mesmo um terço. Penso que a
diversidade de lugares deve influir muito na reprodução, e, por conseguinte, na
quantidade de reses que se pode vender anualmente.
(...)Esta
Capitania é, certamente, uma das mais ricas de todo o Brasil e das mais
favorecidas pela natureza. (...)Vastas pastagens alimentam inúmeros rebanhos e
os fazendeiros não são obrigados, como os proprietários das minas e engenhos de
açúcar, a lançar mão de escravos. Encontram-se , frequentemente, estâncias que
produzem de 10 e 40 mil cruzados de renda, e como os proprietários não têm
quase nenhuma despesa, sua fortuna tende à aumentar rápida e consideravelmente.
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