Antônio Gonçalves
Padilha foi um pioneiro povoador do território do Rio Grande do Sul, na
região de São Francisco de Paula (ou em Cima da Serra, como era costume chamar
a região) a participar do comércio de gado, tendo nascido em Curitiba, que no
recenseamento¹ de 1785, constava com suas fazendas e grande quantidade de gado,
na região de São Francisco de Paula. Depois alguns anos da abertura do Caminho
das Tropas, que propiciou o desenvolvimento do comércio do gado em toda região
adjacente ao mencionado Caminho, ele já negociava com as tropas de gado (para
confecção de couros, sebo e graxa²), conforme documento citado abaixo. Ele e
vários outros indivíduos foram os aventureiros que vieram, alguns ainda jovens,
de vilas já estabelecidas anteriormente à 1732,( de abertura e finalização do
Caminho das Tropas), como Curitiba, Paranaguá, Laguna e região de São Paulo, para consolidar vida e
família no sul.
Carta de Ordem³
Obs: foi acrescentada pontuação para melhor entendimento do
texto.
“Por dita minha Carta de
Ordem e poderes que dou a Félix Domingues Pais, para em virtude dela, tomar
conta, no Posto da Taipava, a José Ferreira da Silva, tudo por uma prestação do
gado que “xarqueiou”(charqueou). Receberá primeiramente 110 couros pertencentes
à mesma charqueação. Todo charque arrobado(pesado) e sebo e graxas tudo
receberá por piso ...[ilegível] sacos que foram do sal , vinte e tantos
alqueires de sal ensacados, um tacho, um machado, tudo passarão recibo do que
receber e forem conduzidos a vila da Laguna a entregar ao Sargento-mór Jerônimo
Francisco Coelho e de tudo cobrará recibo para me trazer as contas, também dará
as despesas da [ilegível] e carretas ao Sargento-mór para se pagar. Também
[ilegível] conta ao dito Ferreira de uns barris de aguardente de cana que ficou
devendo e os seus impostos recebido que seja [ilegível] e com dinheiro pagará
(a ) quem remar na “barsa”(balsa) e o dito Ferreira, logo que chegar [ilegível]
lhe dará o tempo por acabado e esperarão pelo gado que vai daqui para charquear
[ilegível] guiado que seja com ele para a Vila da Laguna [ilegível] por
disposto que seja pagarão as despesas e nesse líquido rendimento fará assento
para novas contas e do mesmo pagará uma “dobra”[dobla- antiga moeda colonial] e
do mesmo de freitas [nome?] trará descargas de sal e pagará corrente mil reis
que deve o dito na Laguna e o que restar trará para me entregar e por firmeza
de tudo fez este só por mim assinado hoje. Cima da Serra, 13 de julho de 1785-* Antonio Gonçalves Padilha.
Consta firma reconhecida, em Porto Alegre, em translado da
carta e do processo a que fazia parte, no Inventário de Antonio Gonçalves Padilha, localizado no APERS.
Esta carta foi escrita por Antonio Gonçalves Padilha,
autorizando, Felix Domingues Pais, provavelmente, companheiro de tropeada de
Padilha e posteriormente marido de uma filha de Padilha, Feliciana. (O já viúvo
Félix Domingues Pais entrou com uma ação contra os herdeiros do sogro
reivindicando o dote prometido pelo casamento e não pago, provando ter casado
com a mesma e ganhando a ação). Este Félix, portador da carta, era autorizado a
fazer negócios em seu nome, em 13/07/1785, sendo este o motivo do genro ter a
carta em seu poder, carta esta que consta no inventário de Antônio Gonçalves
Padilha.
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Notas da pesquisadora:
1-Recenseamento de 1784/85 ou “Relação de moradores que têm campos e animais no Continente”,
mandado realizar pelo Vice-Rei do Brasil, Luis de Vasconcelos e Souza ao
Provedor da Fazenda do Rio Grande, Diogo Osório Vieira, no início de 1784, com
o objetivo de conhecer a real situação da distribuição de terras no extremo sul.
No Arquivo Histórico do RS, Fundo 1198 A e B- O Império Português no sul da
América, Helen Osório, Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2007, Pg 79
2-A coureada ou
courama consistia na matança do gado
para a retirada do couro, era a atividade econômica que se desenvolveu nas
planícies do sul antes da ocupação sistemática pelos paulistas e lagunenses, pela
abundância de gado xucro disponível. Havia a caça ao gado disperso nas Vacarias
do Mar e dos Pinhais, em investidas desde Laguna, no norte do continente e do
sul, desde a Colônia de Sacramento e, posteriormente, desde a Vila de Rio
Grande. As investidas do sul aconteceram desde a fundação da Colônia de
Sacramento, a partir de 1680, quando este gado ficou mais acessível aos
viajantes e moradores da fortaleza militar.
3-Era uma espécie de procuração da época colonial e hoje somente
usada por magistrados. Vale como registro interessante dos movimentos iniciais
que os primeiros posseiros e negociantes de gado faziam com as tropas até São
Paulo.
* A carta era de 1785 e fazia parte de um processo que o genro (Félix Domingues Pais) movia contra os herdeiros do
espólio de Padilha, no processo de inventário do Antônio G. Padilha,(pois não
era a carta original que constava no traslado e sim uma cópia). A tal carta foi anexada em processo posterior
à data da mesma, no processo que correu paralelo ao inventário( processo este
que também não existe mais e sim a sua cópia no inventário).
Olá, Patrícia!
ResponderExcluirBem interessante a sua postagem.
Quem sabe esse Antonio Gonçalves Padilha seja um ascendente do outro Antonio, citado em meu blog.
Vamos ver se conseguimos descobrir a relação entre eles.
Abraços,
Ismênia.
Olá, Ismênia. Já andei tentando encontrar a descendência, mas a lacuna documental é grande. Abraços.
ResponderExcluirEu também queria minha falecida MÃE era borges vieira meu avo era Ernesto Borges Pereira
ExcluirOlá,pertenço a família Farias.Contava meu avô que eles têm história em Vacaria a cerca de terras e brigas.Vc sabe algo a respeito?Obrigada.
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