Parte 9- Continuação do Cap XXI
Descrição da viagem por Santa Catarina
12º dia de viagem
Na manhã seguinte saímos para
Laguna.
Aqui encontramos as únicas
montanhas, exceto aquelas de Torres, que fomos obrigados a atravessar. Nós
passamos várias montanhas de areia, de grande magnitude e, finalmente atingimos
um precipício de rocha, onde começamos a achar que nosso guia tinha se perdido.
Estávamos relutantes em voltar para a estrada pela qual tínhamos vindo,
portanto nos esforçamos para encontrar algum lugar onde a descida fosse
possível e encontramos um que era toleravelmente seguro, então desmontamos e levamos
os cavalos descida abaixo, seguindo à pé. Conforme nos aproximávamos de Laguna,
a paisagem ficava com uma aparência montanhosa e selvagem. Tivemos muita
dificuldade em encontrar o caminho certo, entretanto, em seguida, depois de
cruzar um imenso prado, alcançamos o rio, na barra do qual, no lado norte, está
a cidade de Laguna. Os cavalos que nos tinham fornecido parariam aqui. Nós nos
vestimos debaixo de uma árvore, enquanto a canoa era aprontada para nos levar à
cidade. Antes de atingirmos o rio que leva à barra, nós tínhamos que passar por
uma lagoa¹ que era muito ampla, calma e rasa. O rio, ao contrário da lagoa, é
muito profundo e a corrente, em alguns lugares, muito forte. Depois de
atravessarmos a lagoa, travessia que durou mais ou menos 1h e 30 min, nós chegamos
ao porto, que encontramos cheio de pequenos barcos, muito bem construídos e parecia
ser um lugar cheio de comércio para todo lado. Fomos conduzidos imediatamente
ao
Comandante, que nos hospedou
muito bem e nos deu atenção de uma maneira muito agradável.
Laguna é uma pequena vila, mas bem construída e as pessoas se
vestem bem e parecem viver em grande abundância. As paisagens ao redor são
extraordinariamente bonitas, e tudo parece conspirar para tornar o lugar rico e
florescente.
Em Laguna dispensamos nossos
soldados e índios, pelos quais escrevi uma carta de agradecimento ao governador
do Rio Grande, agradecendo todos os favores que recebemos dele e de sua
guarnição. Ao mesmo tempo, assegurei- lhe que nossa jornada, em vez de abundantes
dificuldades, tinha sido extremamente agradável e divertida. Se tivesse sido
capaz de prever os inconvenientes que encontraríamos no dia seguinte, talvez
não tivesse escrito de maneira tão otimista.
13º dia de viagem
Em Laguna pegamos novos guias,
que, como os anteriores, eram soldados; também tínhamos novos cavalos e na
manhã de domingo, 16 de outubro, recomeçamos nossa jornada. Ao meio-dia
chegamos à Vila Nova², um vilarejo
muito bonito, situado na lateral de uma montanha, onde descansamos durante o
calor do dia, e então, de novo, mudamos de cavalos e de guias, e apressamo-nos
para os novos acontecimentos que viriam. Nosso caminho passava por imensas
florestas, e a passagem era tão estreita que impedia duas pessoas de andarem
lado-a-lado. Em muitos lugares, era até estreito demais para um. Mr. Black, uma
ocasião, ficou literalmente emperrado entre duas árvores, o que requereu nossos
esforços conjuntos para desentalá-lo. Em vários lugares a estrada era tão
íngreme que, mesmo com o pensamento vaidoso de que eu era um cavaleiro
habilidoso, tive dificuldade de manter-me na sela. E isto não era tudo, como a
parte superior das árvores era tão pendente e baixa pelo caminho, que por
muitas horas, fomos forçados a inclinar-nos sobre o pescoço dos nossos cavalos e
desta maneira dolorosa tivemos que subir e descer precipícios. Nós cavalgamos
com um estranho fundo musical; o rugido de diferentes feras selvagens e o silvo
de serpentes eram ouvidos a todo momento; mas, apesar de termos tirado esta
conclusão baseados na horrível convicção de que eles estavam perto de nós,
nunca avistamos nada.
Apesar da marcha fatigante e
incômoda, chegamos, pouco depois do pôr do sol, a um porto de pesca de baleias³,
situado à cerca de 11 ou 12 léguas de Sta.Catharina4 . Aqui fomos gentilmente recebidos
pelo superintendente , aparentemente um homem inteligente. Ele morava em uma
excelente casa, a melhor que eu vi até agora neste país; Caminhando, mostrou-nos
todo o trabalho e construções pertencentes ao lugar e pelas reclamações que ele
fez sobre os pescadores de baleia britânicos, parecia que este lugar - para seu
prejuízo- sentia os efeitos da indústria pesqueira dos meus conterrâneos.
Aconselhado por ele, concordamos em seguir daqui para Sta Catharina5 em um dos
seus navios baleeiros, desanimados com a sua descrição da estrada a percorrer,
que ele disse ser bem pior do que aquela que passamos.
14º dia de viagem
Deixamos o porto pesqueiro cedo
na manhã seguinte e cerca de 2hs da tarde atingimos o nosso lugar de destino. Esta
passagem pela beleza ultrapassa tudo que eu tenho visto e ouvido; situada entre
uma cadeia de férteis montanhas, a costa inteira, em ambos os lados parecia um
laranjal. Na nossa passagem fomos persuadidos a parar em uma fazenda, para um agradável
descanso e lá as pessoas carregaram nosso barco com ótimas laranjas.
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1- Lagoa
de Santo Antônio
2- Freguesia
de Santa Ana de Vila Nova passou à categoria de distrito de Santo Antônio dos
Anjos de Laguna, com o registro que consta na Carta Régia (de Portugal) em 11
de novembro de 1797. Esse distrito compreendia os povoados de Imbituba, Vila
Nova e Mirim. Os moradores, a maioria açorianos, dedicavam-se à pesca no mar e
na lagoa; cultivavam o linho, a cana, o trigo, a mandioca, o milho; criavam
ovelhas e fabricavam açúcar, aguardente, melado, tecidos de linho e lã. A
freguesia teve as mais antigas igreja e escola da comunidade. Até 1747, havia
apenas uma capela de pau-a-pique, coberta com palha. Anos mais tarde, o Rei de
Portugal, Dom João V, autorizou a construção de uma igreja em melhores
condições. Através de um “Alvará Régio”, em 1° de março de 1753, autorizou a
criação da paróquia e o término da igreja em 1765. O templo apresenta paredes
de um metro de espessura, pedra sobre pedra, com abundante argamassa de barro,
areia e óleo de baleia, resultado de um trabalho rude, exaustivo, executado
pelos negros escravos e açorianos.
O primeiro
vigário, segundo registro em velhos livros de batismo, iniciados em 1752, foi o
Padre João de Borba Fagundes. Em 1756, foi substituindo pelo Padre Francisco
José de Araújo Bernardes, que permaneceu até 1761, exercendo o cargo “forâneo”,
isto é, vigário de Vila Nova e de Laguna, simultaneamente.
Fonte- Jornal
Popular Catarinense- http://www.adjorisc.com.br/jornais/opopular/colunas/revivendo-a-historia-imbitubense/distritos-1-freguesia-de-santa-ana-de-vila-nova-1.826474#.UoZ7u3CUR0Q
3- Provavelmente
Garopaba, povoado criado em 1793, com nome de Armação de São Joaquim de
Garopaba.
4,5- Ilha de
Florianópolis
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The Life of Major J.
G. Semple Lisle,
por J.G.Semple Lisle- 1797
London, Printed for W. Stewart, No. 194,
Opposite York House, Piccadilly, 1799
O livro está disponível
digitalmente , em versão original em inglês. https://archive.org/details/lifemajorjgsemp00sempgoog
Tradução livre feita pela
pesquisadora.
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